- Você cortou o cabelo, amor?
Nina sorriu na entrada da porta. Tinha um brilho nos olhos que nunca havia estado lá antes, e desconfio que nunca esteve mais depois. Mas lembro especialmente de seus cabelos naquela noite, um negro que metalizava os olhos e lhe destacava os lábios e a primeira curva dos seios. Pareciam estar ainda mais negros, ela, nascida ruiva.
- Não, bobo, só fiz escova. Mas vou tomar a observação como elogio.
Ela entrou pela casa e foi para o quarto, eu olhando como se nunca a tivesse visto entrar pela sala, deixar a bolsa na mesa, vir até a mim no sofá, beijo, descalçar as sandálias, ir até a cozinha e conferir a geladeira, beber um e dois copos d'água e finalmente se dirigir ao quarto. A revista aberta em minhas mãos e meus olhos presos naquela mulher.
- Estou tão feliz.
Nina se postou na porta do quarto e sorriu. Eu sorri por reflexo, não conseguia deixar de sorrir diante daquele sorriso dela, e naquela hora um sorriso novo, como se ela houvesse sido refundada.
- Vamos sair hoje, Alfredo! Você ainda me deve aquela janta de semana passada!
Havia naquele brilho uma excitação de menina que faz artes de moça e curte o segredo ainda. Eu estava encantado, havia algo nela e tentava descobrir o quê. Fomos jantar e fomos passear de mãos dadas na volta e fez-se o amor na cama, ela e seu segredo.
Apertou-se contra mim na hora do sono e guiou minha mão sobre o regaço pra dizer feito moça apaixonada do primeiro namorado: "Tomara que seja uma menina".
Ela estava tão feliz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário