terça-feira, abril 03, 2007

Ooh, now let's get down tonight

Nina dormia ou descansava longe. Eu sentia meu corpo suar contra a colcha da cama, o pau mole e cansado. Havíamos marcado para caminhar de manhã naquele sábado no Parcão, era perto da casa dos pais dela e de lá fomos parar na minha cama. E foi algo estranho, porque não era a primeira ou segunda vez mas também ainda não havia aquela intimidade de casais.

Nina nunca me dissera se, por algum acaso, tinha namorado. Eu ainda não sabia seu sobrenome e muito menos a data de seu aniversário. Eu suspeitava que fosse gremista e já percebera que ela gostava de mordidas. Isso me intrigava. Estava fazendo sexo há quase uma semana com uma semi-desconhecida - e a melhor forma de descrever nosso relacionamento era dizer que fazíamos sexo.

Não teve aquele nuance todo de casais que vão crescendo, primeiro uma mão matreira, depois um beijo roubado, uma língua arrojada e finalmente "if you don't know the things you're dealing, I can tell you, darling, that it's sexual healing". De certa forma, eu esperava que ela abrisse o jogo porque, não sei, ela sempre tomava a iniciativa ou eu era apalermado deveras. Eu tinha medo de abrir a boca e quebrar aquele encanto, afastar aquela mulher que por segundos me fazia deus e o diabo.

Mas aquele silêncio começava a incomodar. Eu ficava encarando o teto e fechava os olhos, porque estava cansado e afinal havia saído cedo daquela mesma cama onde já me encontrava regresso. Então sua pequena mão de menina acariciou uma orelha minha e pude ouvir:

"Gosto tanto de ti, guri."

Sorri por instinto, quem sabe por descuido. Ela me olhava ao deixar as palavras no ar do quarto. Fui até a sala, sorrateiro, e coloquei o Marvin no tocador de CDs.

Pela primeira vez, ela se empossou de um travesseiro meu e dormiu na minha cama. Cabia a mim descobrir se ela gostava de dormir sob um abraço.