terça-feira, setembro 23, 2008

Não diga nada

O quarto estava muito silencioso quando consegui entrar. Lá dentro havia Nina; mãe de um natimorto, dona de um celular roubado, vítima de um acidente de trânsito. Seu rosto feito moldura de gesso, uma enfermeira anotando coisas dos aparelhos que monitoravam sua respiração e batimentos cardíacos e sabe-se lá mais o quê.

Andei feito uma pluma, ou feito uma pluma andaria se fosse o caso dela andar. Me sentia invadindo um espaço que não me pertencia, apesar daquela mulher ter invadido toda a minha vida em coisa de pouco mais de um ano. Havia três meses que morávamos juntos. Era muita informação para mim ao entrar naquele quarto, naquele silêncio - não vamos esquecer, eu era meio pateta, meio lento.

A enfermeira fez um leve aceno com a cabeça e disse que me deixaria a sós, que ela estava bem, mas ainda sedada. Não tive coragem de perguntar se ela já sabia que havia perdido a criança, eu nem saberia o que dizer a respeito e provavelmente começaria a chorar e seria apenas minhas lágrimas e minha contrição diante de sua dor, não era o momento.

"Ah, merda", era o que se passava pela minha cabeça ao me postar ao seu lado, seu rosto ao alcance de minhas mãos. Ela havia acordado mãe, havia se arrumado para ir trabalhar mãe, deveria estar dirigindo feito mãe, sorria feito mãe há poucos dias, outro dia mesmo eu havia percebido o corte de cabelo novo e achado que havia algo ali. Ela mencionou algo sobre "uma menina" mas pra si do que pra mim numa noite na cama e eu deixei passar. Deixei passar!

Ali de pé só me restava o papel de impotente. Eu não era médico, não era milagreiro, não era nada além do cara que perdeu um filho de semanas, um amontoado de células em gestação, um ser mais bem nutrido de surpresas e esperanças do que identidade. Nina apenas respirava e continuava viva naquela cama, o corpo seguindo adiante apesar da mente anestesiada. Ali fiquei, olhos em seu rosto pelos próximos quarenta ou setenta minutos.

Ela acordou e eu não disse nada. Ela já sabia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bonjorno, notempodenina.blogspot.com!
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